O Ataque da Onça
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Até agora, de todas as expedições, a Ecoclic lll foi a mais conturbada. Nada aconteceu como planejado.
Partimos de Cáceres com a intenção de descer o Rio Paraguai até o Rio Cuiabá, subir até o Porto Jofre e retornar para o Rio Paraguai terminando em Corumbá.
Planejamento do combustível entregue em pontos estratégicos, e vamos lá.
Navegamos dois dias de Cáceres até o Porto Conceição. Em nossa partida no terceiro dia, somos avisados pelo rádio, por uma chalana em sentido contrário que seria impossível prosseguirmos, pois o rio estava entupido com aguapés. Havia quebrado duas hélices em seu esforço para transpor este obstáculo.
Esta ocorrência é comum no Rio Paraguai e em outros locais. A passagem de grandes embarcações associada a outros fatores solta os aguapés da margem. Esta grande quantidade acaba se acumulando num único ponto e cobrindo grandes extenções bloqueando a passagem.
E agora ?, tínhamos combustível suficiente para as três horas restantes até o próximo ponto de abastecimento, mas não para as doze horas de retorno para Cáceres.
Foi no meio desse turbilhão de acontecimentos imprevisíveis que conhecemos o Alonso e sua esposa Ninfa. Um pescador de tuviras que nos ofereceu pouso e comida por três dias enquanto seu filho ia de bote para Cáceres levar o resultado de seu trabalho e trazer combustível para nossos barcos.
Um casal alegre que nos acolheu em sua simplicidade na sua pequena chalana de nome Manduvi do Pantanal.
À noite nos entretia com seu pandeiro e cantorias. Foi numa dessas reuniões conversando sobre a captura da tuvira, assunto que me fascina, que nos contou sua triste história. Com os olhos cheios de lágrimas nos contou que seu filho e companheiro de pesca foi atacado e morto pela onça.
Sempre que tenho oportunidade pergunto aos ribeirinhos alguma história de onça. Já ouvi muitas, mas até então nenhuma com o final trágico com a morte de uma pessoa.
Nos contou que a onça atacou o filho dormindo sozinho na barraca enquanto ele, Alonso, estava no rio para recolher as tuviras.
Quando voltou viu as onças arrastando o corpo. Tentou espantá-las, eram duas, mas não teve sucesso.
Foi assim que me dei conta de como os pescadores ficam vulneráveis a esse predador.
No dia seguinte nos levou para ver a lápide no filho na beira do barranco, local do ataque.
Em outro dia fomos com Alonso e Ninfa coletar cupim, isca usada para a pesca da tuvira.
Os pescadores de tuvira passam parte da madrugada correndo as armadilhas (tuviras são capturadas apenas à noite) e parte do dia coletando e preparando o cupim.
Parou em certo ponto no rio, e foi se esgueirando com o bote pela vegetação da margem, como reconheceu o local só ele mesmo sabe. Nos embrenhamos pela mata alagada e infestada de pernilongos. Com água pelos joelhos caminhamos mata adentro. Era um antigo pomar de uma fazenda abandonada, mais um aprendizado. Árvores gigantescas de laranja, goiaba, bananeiras brigavam por um raio de sol. Alonso preocupado, sempre pedia para ficarmos atentos e juntos. A qualquer barulho ele parava e olhava ao redor, esperava alguns segundos para analisar a situação, para então prosseguir. Nesse caso eram Capivaras e cutias pastando.
Sei que onça pia para chamar aves, mas naquele caso não tínhamos muito como nos previnir pois o que mais se ouve na mata são os pássaros. Jaó, mutum, etc.
Foram dias especiais, onde aprendemos muito e construímos novas amizades, dias onde o contratempo nos premiou e deixou saudades, aliás expedições não dão errado, eventualmente transcorrem de forma diferente do planejado.
Autora: Mara
Partimos de Cáceres com a intenção de descer o Rio Paraguai até o Rio Cuiabá, subir até o Porto Jofre e retornar para o Rio Paraguai terminando em Corumbá.
Planejamento do combustível entregue em pontos estratégicos, e vamos lá.
Navegamos dois dias de Cáceres até o Porto Conceição. Em nossa partida no terceiro dia, somos avisados pelo rádio, por uma chalana em sentido contrário que seria impossível prosseguirmos, pois o rio estava entupido com aguapés. Havia quebrado duas hélices em seu esforço para transpor este obstáculo.
Esta ocorrência é comum no Rio Paraguai e em outros locais. A passagem de grandes embarcações associada a outros fatores solta os aguapés da margem. Esta grande quantidade acaba se acumulando num único ponto e cobrindo grandes extenções bloqueando a passagem.
E agora ?, tínhamos combustível suficiente para as três horas restantes até o próximo ponto de abastecimento, mas não para as doze horas de retorno para Cáceres.
Foi no meio desse turbilhão de acontecimentos imprevisíveis que conhecemos o Alonso e sua esposa Ninfa. Um pescador de tuviras que nos ofereceu pouso e comida por três dias enquanto seu filho ia de bote para Cáceres levar o resultado de seu trabalho e trazer combustível para nossos barcos.
Um casal alegre que nos acolheu em sua simplicidade na sua pequena chalana de nome Manduvi do Pantanal.
À noite nos entretia com seu pandeiro e cantorias. Foi numa dessas reuniões conversando sobre a captura da tuvira, assunto que me fascina, que nos contou sua triste história. Com os olhos cheios de lágrimas nos contou que seu filho e companheiro de pesca foi atacado e morto pela onça.
Sempre que tenho oportunidade pergunto aos ribeirinhos alguma história de onça. Já ouvi muitas, mas até então nenhuma com o final trágico com a morte de uma pessoa.
Nos contou que a onça atacou o filho dormindo sozinho na barraca enquanto ele, Alonso, estava no rio para recolher as tuviras.
Quando voltou viu as onças arrastando o corpo. Tentou espantá-las, eram duas, mas não teve sucesso.
Foi assim que me dei conta de como os pescadores ficam vulneráveis a esse predador.
No dia seguinte nos levou para ver a lápide no filho na beira do barranco, local do ataque.
Em outro dia fomos com Alonso e Ninfa coletar cupim, isca usada para a pesca da tuvira.
Os pescadores de tuvira passam parte da madrugada correndo as armadilhas (tuviras são capturadas apenas à noite) e parte do dia coletando e preparando o cupim.
Parou em certo ponto no rio, e foi se esgueirando com o bote pela vegetação da margem, como reconheceu o local só ele mesmo sabe. Nos embrenhamos pela mata alagada e infestada de pernilongos. Com água pelos joelhos caminhamos mata adentro. Era um antigo pomar de uma fazenda abandonada, mais um aprendizado. Árvores gigantescas de laranja, goiaba, bananeiras brigavam por um raio de sol. Alonso preocupado, sempre pedia para ficarmos atentos e juntos. A qualquer barulho ele parava e olhava ao redor, esperava alguns segundos para analisar a situação, para então prosseguir. Nesse caso eram Capivaras e cutias pastando.
Sei que onça pia para chamar aves, mas naquele caso não tínhamos muito como nos previnir pois o que mais se ouve na mata são os pássaros. Jaó, mutum, etc.
Foram dias especiais, onde aprendemos muito e construímos novas amizades, dias onde o contratempo nos premiou e deixou saudades, aliás expedições não dão errado, eventualmente transcorrem de forma diferente do planejado.
Autora: Mara